Um amigo holandês me disse – de brincadeira, claro – que a comida ruim foi um dos principais motivos para convencer os holandeses a explorar outras terras. Graças às navegações, eles têm batatas (que vieram da América), pindasaus (molho de amendoim inventado na Indonésia depois que navegadores levaram o vegetal da América para o resto do mundo) e temperos como canela, cravo e noz moscada, trazidos do oriente. Os queijos são deliciosos, mas os pratos tradicionais que dão sustança empolgam pouco. Consistem em purês de vegetais, vegetais fritos, peixe e, raramente, carne de mamíferos e aves. Depois do prato principal, chegamos à mesa de doces e o quadro muda de figura. Em termos de gastronomia europeia, os níveis de açúcar e complexidade das sobremesas holandesas só se comparam às de Portugal. Não por acaso, os dois países mantiveram colônias onde se plantava cana-de-açúcar em abundância e abastecia o paladar doce de seus habitantes.
Se na vizinha Bélgica o hit são os wafles fofinhos servidos em pilhas com caldas doces, creme e frutas, na Holanda os finos e delicados stroopwafels são imperdíveis. Não faltam padarias, cafés e supermercados em Amsterdã onde são encontrados diversos tipos stroopwafels: os de tamanho médio, perfeitos para equilibrar sobre uma xícara de chá, os pequenos para equilibrar sobre xicrinhas de café (o calor da bebida derrete o caramelo e… uau!), stroopwafels com cobertura de chocolate, sorvete com stroopwafelkruimels (pedacinhos de stroopwafel) e outras invenções magníficas que harmonizam bem com os produtos medicinais dos famosos coffee shops holandeses.
Meu lugar preferido para comer um stroopwafel bom, fresquinho e barato é no mercado – qualquer cidade holandesa que se preze tem um mercado e uma barraquinha que prepara stroopwafels frescos. Em Amsterdã, eles podem ser encontrados no mercado Albert Cuyp, que fica no bairro De Pijp bem perto do centro.
Aberto de segunda a sábado de 9h às 17h, é possível encontrar de tudo no Albert Cuyp: lembrancinhas tradicionais holandesas, flores e frutas da estação, queijos artesanais, peixes frescos e em conserva, chocolates e a barraquinha mais badalada de todas: a do stroopwafel. Já dá pra perceber sua presença à distância: siga o cheiro de wafel e caramelo com canela que você irá encontrá-la. Dois biscoitos são feitos na hora usando uma forma de ferro parecida com a que se usa para fazer casquinha de sorvete. Enquanto eles ainda estão quentes, o Sacerdote do Stroopwafel, disfarçado de vendedor do mercado, derrama uma generosa camada de caramelo sobre um dos biscoitos e cola o outro por cima.
Depois dessa dose extra de energia, dá pra pedalar pela cidade inteira!