Viajante independente que sou, aqueles ônibus de turismo que te levam pra mil lugares não são a minha praia. Descartei. Li diversos artigos sobre Roma na internet, folheei alguns guias rápidos, perguntei sobre os pontos imperdíveis da cidade a alguns amigos que já tinham ido pra lá. Essa pesquisa só me fez ter mais e mais raiva por não conseguir estender minha passagem pela capital italiana.
Decidi que não ia me estressar com nada. De que adiantaria correr? Não era assim que eu queria incluir Roma da minha “lista de cidades que já conheço” (que não existe assim desse jeito, mas existe, sabe como é). Não seria dessa vez que eu conheceria Roma, as 16 horas seriam apenas uma missão de reconhecimento.
Saí da estação de trem com uma vaga ideia de que direção tomar: noroeste, em direção aos monumentos velhos. Peguei umas ruas menores que pareciam simpáticas, me perdi. Segui com passo leve, sem nenhuma ideia de onde estava, mas sem me preocupar com isso. O plano era rumar de volta à estação uma hora antes do meu trem para o próximo destino. Até lá, eu poderia perambular por onde quisesse.
Perder-se é o melhor jeito de encontrar o inesperado. Aprendi essa lendo Harry Potter
E não é que, ao virar uma esquina, dou de cara com a Fontana di Trevi? Grandiosa, o mármore reluzindo à luz do meio dia, cheia de turistas (é claro). A Fontana di Trevi, estrela daquela cena mítica no “A Doce Vida” do Fellini, parte da minha definição imaginária do que era Roma. Completei o momento com um gelatto vendido ali pertinho e parei alguns minutos para observar os detalhes da fonte, o movimento dos turistas fazendo seus desejos, os guias de turismo preocupados em contar as histórias da Fontana em variados idiomas. Eu só tinha mais algumas horas, era preciso seguir o passo.
Caminhando por ruas estreitas e serpenteantes, uma cantina pequena com mesas coletivas me convidou para entrar. O prato do dia estava escrito em um cavalete à porta: spaghetti alla carbonara, típico de Roma. Ataquei aquela montanha fumegante imitando os meus companheiros italianos. Todo mundo muito simpático e expansivo: ciao, grazie, io soy brasiliana, Ronaldo!, molto buono, manggiare, delicioso, retorno a Italia muy pronto, tu tiene que conocere Brasil doppo, ciao, arrivederci! Gastei todo o meu italianês que aprendi vendo Terra Nostra nessa conversa com os frequentadores da cantina. Uma pratada de macarrão parece muito pra uma pessoa só, mas em Roma, como os romanos: comi tudo e ainda raspei o caldinho com pão.
E então, meu tempo acabou. Era hora de seguir viagem. Ciao, Roma! Voltarei, prometo. Eu não esperava nada e ganhei centenas de motivos para voltar.