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Relato de viagem: Egito e Jordânia

* Por Davi Leles

Como fui parar lá? O Egito não é o destino preferido da maioria absoluta das pessoas, mas eu sempre tive curiosidade de ir para lá. Na minha casa os destinos de viagem são sempre uma dificuldade na hora de serem escolhidos: minha esposa ama os grandes centros turísticos e eu quero ir para os lugares mais diferentes possíveis. Dessa vez eu ganhei. Apareceu uma passagem por mil reais ida e volta, eu comprei e só depois fui resolver com meu líder minhas férias e também fui tratar de convencer minha esposa.

O planejamento

Resolvido isso, era hora de planejar a viagem em si. Pesquisei muito e fiz algumas descobertas interessantes sobre o meu destino.

A primeira e ótima notícia é que a moeda no Egito é bem desvalorizada em relação à nossa. Na época eram 7 Libras Egípcias para cada Real. Hoje não está assim, mas permanece vantajoso. Por conta da conversão o Egito se torna um destino muito barato. É possível ficar em hotéis 5 estrelas por preços baixíssimos, por exemplo. Em uma das cidades que ficamos, pagamos 500 reais na diária para 2 pessoas em um resort all inclusive. 

Por outro lado, ao contrário do Egito, a Jordânia é um destino bem caro. A moeda lá é inclusive mais valorizada que o Euro. Por esse motivo fiquei apenas 2 dias lá. Fui por já estar tão pertinho e porque não podia perder a chance de conhecer Petra, a cidade perdida.

Quando comecei a pesquisar sobre o Egito, a primeira pergunta que busquei respostas (e que sempre é a primeira dúvida dos que me perguntam sobre a viagem) foi sobre segurança. Ir para o Egito é conviver com uma realidade muito diferente da nossa e em alguns momentos isso pode assustar. É absolutamente normal, por exemplo, ver a polícia com grandes armas em público e ter que passar sua bolsa num detector de metais em praticamente qualquer lugar que você for entrar. Fiz isso dezenas de vezes. Num primeiro instante isso pode te assustar, mas com o decorrer do tempo você percebe que isso é para garantir a segurança, mas que não significa que há iminência de algum grande problema. É um país com um histórico de guerras muito grande e simplesmente é assim que as coisas funcionam lá.

A segunda pergunta que vem é: é tranquilo mulher viajar para lá? Sim. Muito sim, inclusive! Trata-se de um povo super receptivo e não há nenhuma diferença no trato com mulheres ocidentais. Inclusive, a única restrição que nos foi imposta pela cultura deles foi: mulheres de véu cobrindo o cabelo e homens de calça ao entrar na Mesquita. Tirando isso, não tivemos nenhum conflito entre a cultura ocidental e islâmica. Inclusive, eles AMAM pessoas diferentes deles. Minha esposa por várias vezes foi parada na rua para tirar fotos com meninas. Elas achavam ela super diferente do biotipo delas. Segue aí um registro de quando estávamos esperando um Uber no shopping (aliás, os shoppings de lá são de altíssimo padrão).

E a língua árabe, Davi? Como se comunicar por lá? Surpreendentemente a maioria absoluta das pessoas que você conviverá, seja nos pontos turísticos ou estabelecimentos comerciais, falam inglês. E não se assuste se você conhecer um egípcio que fala português, pois me deparei com essa situação em diversos locais.

Por não ter viajado ainda para o Oriente Médio e pela vantagem econômica da moeda, optei por fechar um pacote com todos os passeios, traslados e passagens de avião com uma agência de viagens egípcia, mas que me atendeu em português e disponibiliza guias que falam português para os passeios. Foi a primeira vez que fiz isso. 

Depois de ter viajado vi que não é um segredo tão grande assim fazer turismo no Egito e eu poderia ter ido por conta própria, mas conviver o dia inteiro com uma pessoa local foi com certeza a experiência mais enriquecedora da viagem. Eu não aprendi somente sobre os pontos turísticos, mas sobre a política e história local, a estrutura familiar egípcia, comportamento, religião dentre outras coisas. Uma opção muito comum de roteiro para o Egito é fazer um cruzeiro pelo Rio Nilo. Eu não optei por essa opção por entender que poderia ficar um pouco repetitivo demais as diversas paradas que o cruzeiro faz.

Se por acaso você não quiser fechar com uma agência, a única recomendação é andar de Uber lá. Fica super barato e é muito mais seguro do que alugar um carro. O trânsito no Egito é caótico, não há nenhuma regra, carros andam na contra-mão, colocam 5 pessoas numa moto, não há sequer um carro não batido e o trânsito é movido a buzinas.

Cairo

Fomos para o Egito em abril e nessa época as temperaturas estavam em cerca de 35 graus, mas lá venta muito e então a sensação térmica é super tranquila. Isso passa uma sensação de frescor e acabamos subestimando o sol. Por isso, minha dica é: leve protetor solar! 

No meu primeiro dia eu fiz um programa super inusitado. Quando o pessoal da agência soube que eu gostava de futebol, eles marcaram uma pelada à beira do rio Nilo. 

No meu segundo dia chegou a vez delas, as Pirâmides. Pessoalmente elas são muito mais impressionantes. A maior delas tem 150 metros de altura e 230 metros de base. É uma sensação incrível vê-las de tão perto. A título de curiosidade, a base da pirâmide seria capaz de cobrir 7 quarteirões de NY. 

Infelizmente, os egípcios não têm muito zelo com seus monumentos históricos. Se fosse em qualquer outro lugar do planeta, seria impossível chegar tão perto das pirâmides, mas lá você pode subir na pirâmide sem nenhum problema. Eles só vêm te chamar a atenção se você subir muitos degraus. No fim, acredito que isso pelo menos reforça ainda mais a capacidade de construção dos antigos, já que até hoje elas sofrem uma super degradação e estão lá inteirinhas, mesmo 4500 anos depois de serem construídas. Chegamos também a entrar na pirâmide, mas sinceramente não há nada demais lá e não recomendo.

Depois de conhecer as pirâmides fica difícil encontrar outra atração no Cairo que seja capaz de competir. Nós visitamos a Cidadela de Saladino que possui uma visão panorâmica da cidade impressionante. Ainda na Cidadela entramos numa Mesquita. 

Também conheci um pouco das referências católicas que existem na cidade, visitei uma feira de itens típicos (o Bazar El Khalili), vi o processo de fabricação manual de um papiro, que é super legal! e, inclusive, uma ótima dica de souvenir: um papiro pintado por um aluno da faculdade de Belas Artes do Cairo. 

Almocei em restaurantes típicos também. A comida é baseada em temperos fortes, legumes, sopas, arroz e carnes brancas. Dentre elas, a de pombo que eu experimentei e quase não tem diferença para a de frango.

Uma coisa incrível que presenciei no Egito foi que todos os dias, por 5 vezes em horários específicos, caixas de som começam a tocar um chamado para os árabes orarem em direção à Meca. É bem curioso que do nada caixas de som de todos os lados começam a tocar conjuntamente em árabe.

Luxor

Depois de 4 dias no Cairo, nos deslocamos para Luxor, no sul do Egito. Esta era a antiga capital do país e, agora, um acervo histórico muito maior que o Cairo. Hoje parece uma cidade do interior: super calma, sem nenhum trânsito e rodeada de vida por causa do Rio Nilo. 

Ficamos em um hotel a beira do Nilo e era uma delícia ouvir os pássaros cantando o dia inteiro. Essa cidade é parada obrigatória no Egito. Luxor oferece experiências incríveis. A imersão na cultura egípcia aqui é muito maior que no Cairo!

Lá conhecemos o Templo de Luxor e também o de Karnak. Templos lindos e gigantescos, onde você se perde em meio às colunas de 25 metros de altura. 

Nosso segundo dia em Luxor começou cedo. Acordamos às 4:30 da manhã, mas por um bom motivo: iríamos voar de balão ao nascer do sol sobre o rio Nilo e o Vale dos Reis. Nesse vale encontram-se as tumbas de dezenas de Faraós e o Templo da rainha Hatshepsut. Ao visitar o Vale dos Reis nós entramos em algumas tumbas e é incrível o nível de detalhe e riqueza. Tudo pintado com ouro. Infelizmente não tenho fotos porque é proibido tirar a não ser que você pague por esse direito. Vai entender, né? Eram uns 25 dólares para poder tirar fotos, então não pagamos.

Sharm El-Sheik

No dia seguinte já voamos para Sharm El-Sheik. Uma cidade litorânea margeada pelo Mar Vermelho repleta de resorts. Essa cidade era pertencente a Israel e foi anexada ao Egito depois da Guerra dos 6 dias na década de 60. Por ter raízes israelenses, e ser uma cidade com forte cunho turístico de alto padrão, as pessoas, as comidas, as ruas, nada se assemelha ao que vimos no restante do Egito. Ficamos por 4 dias descansando lá e o mais curioso durante este tempo foi descobrir que o Mar de Vermelho não tem nada de vermelho.

Amã e Petra

Depois desses dias de descanso, lá fomos nós novamente pegar um avião – durante 18 dias de viagem foram 12 voos e um trajeto de carro de 500 km ida e volta. Agora o destino era a metrópole Amã na Jordânia. Incrível como países um do lado do outro, que juntos têm o tamanho do sudeste brasileiro, podem ser tão diferentes. Amã é uma cidade super desenvolvida. Com arranha-céus, luzes, lojas de marcas caríssimas. 

A Jordânia, a propósito, é uma monarquia cujo o rei tem participação ativa na política. Com todos que conversei, foi expressada grande admiração pela família real. A rainha é fortemente envolvida com questões sociais no país. 

Mas o objetivo de ir para a Jordânia não era saber mais sobre sua cultura monárquica e sim conhecer Petra, a cidade perdida que fica a cerca de 250 km de Amã. Viajamos cedinho para lá e foram mais lições em como o povo antigo era capaz de fazer construções tão absurdas com nenhum recurso tecnológico. Em uma engraçada contradição, no caminho para lá nos deparamos com o menor hotel do mundo. 

Chegamos em Petra e a primeira dica é: cuidado com os cavalos. Existem 2 formas de você descer pelos cânions de Petra: a pé e de cavalo guiado por locais. Eles não ligam muito para as pessoas andando a pé e vi 2 acidentes entre cavalos e turistas. Ah, e a cidade é muito maior que a tal câmara do tesouro que aparece em Indiana Jones. Lá tem um anfiteatro, túmulos e por aí vai. Para visitar tudo é preciso 1 dia inteiro e existem opções para acessar a cidade de noite, quando ela fica toda cercada de velas. Parece bem legal, mas não fizemos por conta do tempo, infelizmente. 

Logo logo estávamos  partindo para o deserto de Wadi Rum, local de filmagem do filme Perdidos em Marte com Matt Damon. Foi bem legal a primeira experiência em um deserto. Ao contrário do Egito, que estava fazendo 35 graus, na Jordânia passamos por uma temperatura média de 10 graus. Visitamos uma tribo de beduínos e descobrimos que na região ocorre um campeonato internacional de corrida de camelos. Fizemos tudo isso em um dia e foi bem cansativo, então eu recomendaria passar a noite em Petra ou no deserto de Wadi Rum e retornar somente no dia seguinte. Aliás, existem uns hotéis sensacionais no deserto, umas espécies de bolhas com bastante conforto e ao mesmo tempo permite visualizar o céu durante a noite de dentro do quarto.

No mesmo dia retornamos para Amã, dormimos e logo cedo retornamos para o Cairo de onde sairia nosso voo com destino ao Brasil.

Realizar essa viagem foi algo incrível. Foram tantos aprendizados e experiências que poderia passar dias contando. Sempre que me deparo com algum lembrete do Instagram das fotos da viagem me bate uma saudade enorme. Sou um super entusiasta de todos que me perguntam sobre esse roteiro e torço muito para que em alguma outra viagem eu consiga ter vivências tão impactantes quanto as que vivi no Egito e Jordânia.

* Davi Leles é Agile Master na MaxMilhas, Especialista em Viagens, milheiro, muito bem casado e nas horas vagas faz origamis.

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