*Por Natália Pereira
Portugal é considerado um dos melhores destinos europeus. Pude comprovar isso durante um intercâmbio na cidade do Porto, a 2ª maior cidade do país, depois de Lisboa. Viajar é conhecer o outro e, para uma experiência completa, nada melhor do que se atentar para a arte de rua, que expressa a voz da cidade e te permite perceber o seu destino por uma nova perspectiva.
Uma das coisas que eu mais gostei é que o Porto é uma cidade pequena (ou, pelo menos, menor que o Rio de Janeiro) e eu conseguia fazer tudo a pé. Todos os lugares que eu frequentava no meu dia-a-dia eu poderia chegar andando, a qualquer hora.
E, em meio às idas e vindas, não pude deixar de perceber o contraste entre construções tão tradicionais e grafites tão coloridos, que são um alívio para o céu acinzentado do inverno.
Subir e descer ladeiras se torna agradável quando você tem tanta coisa para explorar. Diversos grafites, instalações e qualquer outro tipo de intervenção urbana atraem a atenção e te ajudam a redescobrir os espaços.
Se você vai fazer uma eurotrip e o Porto faz parte do seu roteiro, acredite, esse é o seu momento de descansar dos estresses que uma viagem pode trazer. O Porto não é uma cidade para se ver com pressa e bater ponto nas atrações turísticas. Aproveite o caminho.
Encontre e se desencontre pelas ruas, entre e saia de restaurantes, lojinhas, igrejas e museus, caminhe e pare para aproveitar a vista. No fim do dia, compre um vinho, sente-se à beira do Rio D’ouro e sinta o ar romântico e nostálgico da cidade. A Ribeira é um dos lugares mais bonitos e não sou eu que estou dizendo.
Ao longo do seu passeio, repare em todo o seu redor, pois cada cantinho esconde uma identidade. Vamos caminhar?
A eletricidade da Rua das Flores
Descendo da São Bento para a Ribeira, eu sempre gostava de passar por essa rua, por mais que isso significasse alguns passos e minutos a mais. O que mais me chamou a atenção na primeira vez que fui lá foram essas caixas coloridas, que contei pelo menos umas 10 ao longo do trajeto.
São as caixas de eletricidade que distribuem energia elétrica para toda a rua. Antes cinzas, foram preenchidas com cores, desenhos, personagens e conceitos por diferentes artistas da cidade.
Não ande pela Rua das Flores olhando só para frente, mas sim parando e observando cada caixa aos seus lados. As mais instigantes são as que levam frases da vida cotidiana nas ruas portuguesas como “Oh morcom, bai-me à loja”, “Olha esta sostra a laurear a pevide” e “Este é fino como o alho”. Tentar decifrar o significado desses dizeres é um passatempo turístico.
Além disso, a rua é exclusiva dos pedestres e lá você encontra cafés e restaurantes com mesinhas na calçada, museus, livrarias, lojas de decoração, músicos, malabaristas… Para quem gosta de se rodear de história, arte e arquitetura, ou simplesmente bem-estar, precisa passar pela Rua das Flores.
Quem és, Porto? Os azulejos respondem
Nos meus primeiros dias na cidade, fui a uma festa no Gare, um prédio todo de azulejos em tons de preto e branco. Talvez não por coincidência, ele fica logo atrás da estação de trem de São Bento, famosa pelo seu interior de azulejos azuis, aqueles tradicionais portugueses que você já deve ter visto.
A fachada da casa noturna surgiu de um workshop com portuenses e turistas que deveriam responder em um azulejo a pergunta “Quem és, Porto?”. Três mil azulejos depois, a arte colaborativa captou em uma parede só o espírito da cidade e suas múltiplas identidades.
Dá vontade de escalar o prédio para poder ver todos os azulejos e descobrir como cada pessoa traduziu a sua interpretação do Porto em alguns poucos centímetros.
A metamorfose da estação de São Bento
Essa instalação artística também fez parte do projeto para embelezar e dinamizar os espaços vazios ao redor da estação de São Bento. Bem do lado da estação, esse prédio abandonado desde os anos 60 sofreu em 2015 uma intervenção de uma dupla de arquitetos que chamou a obra de “Metamorfose”. A criação age como uma estrutura digitalizada que preenche a irregularidade do prédio em ruínas. O interessante é ver como eles conseguiram dar outro visual ao prédio, mas sem perder a essência do passado.
Os murais da Restauração
Uma vez peguei um caminho diferente para os Jardins do Palácio de Cristal e me deparei com diversos grafites. Em vez de ir pelas ruas do centro e entrar pelo portão principal dos jardins, resolvi seguir por baixo pela Rua da Restauração, onde só se viam carros, o Rio D’ouro de um lado e, do outro, essa grande tela.
Aos pés das 14 pilastras que sustentam os Jardins do Palácio de Cristal, estava o Mural Coletivo da Restauração, um mural de caráter rotativo, de modo que de 6 em 6 meses novos artistas realizam suas intervenções nas paredes. Na época dessa foto, o projeto já estava no seu 3º ciclo e tinha as obras de 6 artistas diferentes. Desde a sua inauguração em 2015, imagina quantos artistas já não tiveram a oportunidade de expor ali e quantas pessoas já não viram as paredes mudarem a cada semestre?
Quando as lojas fecham…
Esse não é um passeio para qualquer dia: aos domingos, os grafites se revelam nas lojas da Rua de Cedofeita. Quando o comércio não está aberto, a fachada de cada loja se transforma em tela para as mais diversas imagens.
Não sei ao certo quando percebi essa arte escondida na sempre tão movimentada Rua de Cedofeita, mas sei que trouxe uma nova graça ao lugar. Você também pode ver à noite, se preferir.
Essa é uma das ruas mais importantes da cidade, sendo conhecida pelo comércio tradicional e por restaurantes de diferentes nacionalidades. Com uma larga calçada portuguesa, a maior parte da rua é fechada para carros, sendo perfeita para caminhar por essa exposição de arte a céu aberto.
As paredes livres do estacionamento da Trindade
A Câmara do Porto viu nos muros de um estacionamento uma oportunidade de preencher os espaços urbanos com arte e convidou Hazul Luzah e Mr. Dheo para desenvolverem suas criações naqueles 250 metros quadrados. O estacionamento fica logo ao lado da estação da Trindade, região central da cidade, por onde passam as 6 linhas do metrô (ou “métro”, como os portugueses diriam).
Essa intervenção foi chamada de “Parede Livre” e inaugurou um acordo entre as autoridades e os artistas do Porto, promovendo oficialmente a arte de rua. De um lado, é retratado e homenageado o pai de Mr. Dheo, que segura a Torre dos Clérigos em uma mão e uma lata de tinta na outra, simbolizando essa união entre a cidade e o grafite.
Na outra metade mais abstrata, Hazul Luzah pintou, de forma ondulada e geométrica, uma figura de traços femininos que costuma aparecer nos seus trabalhos: Invicta, a cidade do Porto. Com certeza essas paredes antes tão ignoradas não passam mais despercebidas por tantos moradores e turistas que transitam por ali todos os dias.
Essas foram algumas das memórias que eu registrei, mas te garanto que tem muito mais da streetart do Porto que deveria estar aqui. Talvez algumas obras já nem existam mais, e tantas outras devem ter aparecido.
Seja em Portugal ou em qualquer lugar que você esteja viajando, pratique um novo olhar aos espaços e descubra todos os significados que eles escondem. As ruas são onde o novo e o antigo se encontram, e a arte urbana nos atenta para esse movimento da cidade.
A liberdade da rua se difunde cada vez mais e talvez amanhã você repare em um canto antes despercebido porque, dessa vez, ele tem cor.
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*Natália Pereira é analista de SEO, especialista em viagem da MaxMilhas e uma admiradora da arte urbana de todos os lugares que visitou.