Afroturismo: Viagens pela cultura preta e os seus encantos
O turismo afro promove roteiros que resgatam e valorizam a cultura e a história afro-brasileiras O número de brasileiros que se declaram pretos e pardos cresce cada vez mais no país. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que 54,7% da população se autodenomina parda ou preta, sendo a única proporção de brasileiros que cresceu no país inteiro entre 2012 e 2018. Segundo a mesma fonte, o Brasil é ainda o país com a segunda maior população negra do mundo, ficando atrás apenas da Nigéria. Os números revelam a importância de se valorizar a cultura e história do povo negro no Brasil. Em um país em que as marcas da escravidão ainda reverberam nos dias de hoje, olhar para o passado é o primeiro passo para mudar o presente. Esse movimento de valorização e reconhecimento das necessidades e direitos da população negra tem avançado em diversos setores da sociedade, desde a criação de bancos que financiam empreendedores negros até empresas com programas de desenvolvimento exclusivos para essa parte da população. E um dos setores que tem buscado o resgate, reconhecimento e vivência da cultura e história negra no Brasil é o afroturismo ou turismo étnico.
O que é e qual a importância do afroturismo?
O afroturismo, turismo étnico ou turismo afro, é uma vertente do turismo tradicional que valoriza o patrimônio material e imaterial da população negra brasileira. Ele pode (e deve) ser praticado por qualquer pessoa que queira conhecer mais sobre a história e cultura negra. Até porque, a cultura afro está na base das tradições brasileiras, presente em destinos turísticos de todo o país. Está nas igrejas pertencentes às irmandades de Homens Pretos, centros culturais, museus, gastronomia, música, vivências, comunidades quilombolas etc. E não é só a cultura e a história afro-brasileiras que ganham destaque. O afroturismo também prioriza fornecedores negros na cadeia produtiva, fortalecendo a comunidade. As iniciativas desse segmento do turismo também combatem o racismo e oferecem às pessoas negras mais segurança e acolhimento durante as suas viagens. O afroturismo vem ganhando força nos últimos anos impulsionado pelas discussões sobre racismo e iniciativas de representatividade e valorização do povo negro. Essa é uma resposta do turismo ao apagamento histórico da cultura afro no Brasil. Cidades como Salvador, Rio de Janeiro, Ouro Preto e muitas outras foram erguidas pelo trabalho escravo de pessoas da África, que também marcaram os locais com sua língua, costumes, rituais, comidas etc. Contudo, as casas coloniais e palacetes portugueses costumam contar apenas a história dos homens brancos que moravam e trabalhavam nesses espaços. O que o turismo afro faz é relembrar homens negros e mulheres negras que também fizeram parte dessa história e que foram apagados ao longo dos anos. Empresas de turismo e profissionais ligados a esse setor têm apostado cada vez mais no turismo afro que cresce exponencialmente no país. Veja a seguir alguma delas:
- Diaspora.Black: focada em proporcionar experiências e roteiros voltados à cultura negra, bem como hospedagem na casa de pessoas negras;
- Brafrika Viagens: uma agência de afroturismo com roteiros em Salvador, Rio de Janeiro e Ouro Preto, focados na história ancestral da população negra brasileira;
- Sou + Carioca: que realiza tours afrocentrados no Rio de Janeiro;
- Black Travelers: que recebe turistas negros, brasileiros e estrangeiros, para tours afrocentrados em Salvador e no Rio de Janeiro.
O Afroturismo é visto como uma possibilidade de visitar destinos de uma outra forma e com uma visão focada na história e cultura afro-brasileira, que são parte importante da nossa história e cultura.
7 Roteiros para explorar o afroturismo
O turismo afro está presente em várias regiões do Brasil, atraindo visitantes do país e do mundo inteiro. Confira a seguir alguns roteiros influenciados pela cultura negra no país!
1. Rio de Janeiro
A cidade do Rio de Janeiro foi um dos principais portos de entrada de escravizados das Américas e, portanto, abriga uma significativa herança cultural africana. O Cais do Valongo, entre as Ruas Coelho de Castro e Sacadura Cabral, por onde os africanos escravizados entravam no Brasil, é hoje Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO. O Cais é hoje o único vestígio material sobre a chegada dos africanos na região das Américas.
Na renovada zona portuária, os bairros Santo Cristo, Saúde e Gamboa ainda reúnem o Circuito Histórico e Arqueológico da Herança Africana. A cidade também abriga o Instituto Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPN), localizado na Rua Pedro Ernesto. O instituto valoriza e promove o patrimônio cultural africano e afro-brasileiro, estimulando a reflexão sobre a escravidão e a desigualdade social no país. Vale a pena visitar também a Pedra do Sal, um monumento histórico e religioso, onde se encontra a Comunidade Remanescentes de Quilombos da Pedra do Sal, na Rua Argemiro Bulcão; e a Igreja do Rosário e São Benedito dos Homens Negros, na Rua Uruguaiana.
2. São Paulo
O Estado de São Paulo, como um todo, é uma das principais rotas do afroturismo por conta da conhecida Rota da Liberdade, um projeto criado pela historiadora Solange Barbosa em 2004. A Rota da Liberdade realiza atividades nos quilombos do interior paulista e passa por 18 cidades do Vale do Paraíba, com o intuito de promover a valorização da cultura afro-brasileira. O Estado também oferece tours pela Serra da Mantiqueira e do Mar, no Litoral Norte, onde está o Quilombo da Fazenda. A cidade de São Paulo ainda abriga importantes palcos da história e cultura negra, como a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, localizada no Largo do Paiçandu, na região central.
Wilfredor, CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons
3. Alagoas
Em Alagoas está o município União dos Palmares, na Serra da Barriga, local onde foi estabelecido o maior e mais duradouro quilombo das Américas. O Quilombo de Palmares foi uma comunidade livre formada por negros escravizados fugitivos, índios e brancos empobrecidos da região, somando mais de 30 mil pessoas divididas em 11 povoados. O Parque Memorial Quilombo dos Palmares é, desde 1986, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e um dos principais pontos de parada para o turismo afro. O Parque reconstitui a história de resistência à escravidão de Palmares e de seus principais líderes, Zumbi dos Palmares e Dandara dos Palmares, e funciona como uma maquete em tamanho natural do próprio Quilombo. Além disso, por lá também é possível apreciar a vista incrível que a Serra da Barriga oferece aos turistas que querem saber mais sobre a resistência negra no Brasil.
4. Bahia
A capital baiana, Salvador, é sem dúvida um dos principais roteiros do afroturismo, principalmente do turismo afro-religioso. Cerca de 80% da população de Salvador é afrodescendente e a cidade tem a maior população negra fora da África. O roteiro religioso fica por conta de visitas à Igreja do Rosário dos Homens Pretos, no Pelourinho, bem como casas de axé e terreiros, como o Gantois. O Pelourinho é também Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO, e ainda abriga o Museu Afro-brasileiro, que está dentro da Universidade Federal da Bahia e promove o conhecimento sobre a imigração e a colonização africana. Além disso, a cidade de Salvador possui um programa que valoriza a cultura afro-brasileira e mapeia empreendimentos no setor do turismo liderados por afrodescendentes.
5. Maranhão
São Luís é a segunda capital do Brasil com maior população negra. A cidade abriga o Museu Cafuá das Mercês, ou Museu do Negro, localizado na Rua Jacinto Maia, no centro histórico. O Museu, que era um antigo mercado de escravizados, conta com um acervo rico em objetos, instrumentos musicais, indumentárias e outros itens referentes à história e memória da escravidão e cultura afro-maranhenese. Vale a pena visitar também as casas religiosas conhecidas como Tambor de Mina, fundamentais para a memória das religiões afro-brasileiras da cidade. O município de Alcântara, na região metropolitana de São Luís, também abriga a Comunidade Quilombola de Alcântara, ocupação que remete ao século XVIII.
6. Minas Gerais
Umas das principais rotas do turismo afro é a cidade histórica de Ouro Preto. A principal razão da prosperidade da cidade nos tempos coloniais foi a inteligência e habilidade dos africanos escravizados que trabalhavam nas minas de ouro da região. A Mina du Veloso, que fica localizada no bairro de mesmo nome em Ouro Preto, tem o objetivo de mostrar a contribuição dos negros para o desenvolvimento da mineração e da riqueza histórica e cultural da cidade.
Vale a pena visitar também o Museu Casa dos Contos, na Rua São José, construído no século XVIII e que preserva a história dos africanos escravizados que viviam na cidade nessa época; e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no largo do Rosário, tombada pelo IPHAN. Leia também: 5 cidades históricas para conhecer em Minas Gerais | Blog da MaxMilhas
7. Pernambuco
Recife é outro roteiro importante para o afroturismo. A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos do Recife, na Rua Estreita do Rosário, palco de coroações de rainhas de maracatus do século XVII, é um dos símbolos da ancestralidade africana da cidade. O Pátio do Terço, em frente à Igreja Nossa Senhora do Terço, na Rua Vidal de Negreiros, é outro reduto da cultura afro-brasileira. Em todas as segundas-feiras de carnaval, é realizada no pátio a Noite dos Tambores Silenciosos, cerimônia que mistura os cultos das religiões de matriz africana com os do carnaval, em memória aos orixás e espíritos ancestrais.
Vale a pena passar também pelo Monumento a Zumbi dos Palmares, que fica no Pátio do Carmo e celebra a memória do principal líder do Quilombo dos Palmares. Já visitou alguns desses roteiros afrocentrados? Aproveite as dicas do nosso blog e conheça os destinos que valorizam a cultura e história afro-brasileira. Para planejar sua viagem, não deixe de contar com os serviços de passagem aérea e reserva de hotéis da MaxMilhas!